A Cirurgiã plástica Thamy Motoki fala sobre o aumento na procura pelo procedimento e os motivos que levam as mulheres a optarem por isso
Por muitos anos a moda de seios fartos e empinados fez a cabeça das mulheres mundo afora e o implante de próteses de silicone, dos mais variados tamanhos e formatos, virou uma verdadeira febre no planeta.
Era raro encontrar por aí alguma mulher que não tivesse aderido à onda de dar aquela turbinada nos seios. Mas, como tudo está em constante movimento e evolução, as tendências mudam e a moda passa.
Atualmente um movimento contrário vem ganhando cada vez mais força e, em busca de um estilo de vida mais natural e da aceitação do próprio corpo, as cirurgias para a retirada da prótese, também chamada de explante de silicone, têm sido um procedimento muito procurado nas clínicas de cirurgia plástica.
Famosas como as atrizes Carolina Dieckmann e Fiorella Mattheis, a designer de jóias Mônica Benini e a ex-BBB Amanda Djehdian, são algumas que já passaram pelo processo de retirada e comentam abertamente sobre o assunto em suas redes sociais e na mídia.
“A procura pela mamoplastia de aumento (colocação de implantes de silicone) ainda é muito maior. É a cirurgia estética mais feita no mundo e a segunda mais realizada no Brasil (ficando atrás somente da lipoaspiração). Mas dados recentes da ISAPS (International Society of Aesthetic Plastic Surgery) mostram que de 2016 para 2020, houve sim um aumento de 33% nas cirurgias para a retirada dos implantes. Só esta semana, por exemplo, atendi duas pacientes querendo realizar esse procedimento”, explica a cirurgiã plástica, Dra. Thamy Motoki, de São Paulo, membro titular da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica.
Segundo a Dra. Thamy, os principais motivos que levam a paciente a optar pela retirada das próteses mamárias estão relacionados à saúde. O surgimento de condições como a doença do Silicone e da Síndrome ASIA deixam muitas mulheres em alerta. Além disso, deformidades dos implantes como a contratura capsular também leva ao desejo de retirar as próteses. “Há casos de pacientes que buscam a remoção dos implantes por questões estéticas. Com o passar do tempo, o padrão de beleza da sociedade vai se alterando. Se antes, as mamas grandes e bem marcadas eram consideradas bonitas e objetos de desejo entre as mulheres, hoje caminhamos para uma mudança de conceito e mamas menores, com aspecto mais natural, talvez agradem mais tanto mulheres quanto homens”, analisa a cirurgiã.
Questão de saúde
Só que muito além da estética, alguns problemas causados pelo implante de silicone acabam assustando as mulheres e as levam a optarem pela retirada das próteses por uma questão de saúde e bem-estar.
O problema mais comum que o silicone nos seios pode causar é a contratura capsular associada à dor. Isso ocorre quando o próprio corpo leva à formação de uma cápsula ao redor do implante (durante vários meses ou anos), o que vai deformando a prótese. Algumas mulheres podem sentir dor nas mamas associada a essa contratura que pode ou não ser visível e palpável.
“Mais recentemente fala-se muito sobre a Doença do Silicone, que engloba um conjunto de sintomas inespecíficos (fadiga, depressão, mau funcionamento intestinal, dores articulares etc.) presentes em pessoas com implantes. Esse problema não possui critérios de diagnósticos definidos e nem exames laboratoriais que se diferenciem de outras condições. A OMS (Organização Mundial da Saúde) ainda não reconheceu esse termo como doença real, pois é um quadro recentemente descrito e necessita de maiores investigações”, detalha a cirurgiã plástica.
Dra. Thamy ressalta, ainda, a existência da Síndrome ASIA (Síndrome Autoimune-Inflamatória Induzida por Adjuvante). Trata-se do desenvolvimento de doenças autoimunes em indivíduos geneticamente predispostos como resultado de exposição a adjuvantes (substâncias estranhas ao organismo que provocam reação imunológica), podendo ser o silicone um destes adjuvantes, apesar de raro. “Essa síndrome pode desencadear reação imunológica e manifestações semelhantes à de algumas doenças reumáticas, sendo os sintomas mais comuns: fadiga crônica, dores articulares e musculares, boca e olho seco e algumas manifestações neurológicas. O diagnóstico é feito com o achado de autoanticorpos contra o silicone e alguns HLA (antígeno leucocitário humano) específicos”, explica a médica.
Processo de retirada
Segundo a cirurgiã, o procedimento para a retirada da prótese de silicone não é algo complicado, mas trabalhoso principalmente quando é necessário fazer a remoção da cápsula de implante. Thamy explica que, às vezes, a paciente pode sentir dor devido à manipulação muito próxima à musculatura. E ela alerta: para diminuir esse incômodo, é importante seguir corretamente todas as orientações do uso de medicações e utilização de malhas cirúrgicas após a cirurgia. Além, claro, do repouso de no mínimo 7 dias. Mas, não sendo uma intervenção complicada, a paciente costuma receber alta no mesmo dia da cirurgia.
“Tentamos sempre utilizar a mesma incisão (corte) da cirurgia anterior. Acessamos a prótese e realizamos a remoção da mesma. Sempre que possível extraímos a cápsula do implante junto (inteiro ou em fragmentos). Após a retirada da prótese, colocamos um dreno em cada mama para ajudar na drenagem de líquidos e a cicatriz é então fechada”, detalha a especialista.
Resultados
Uma dúvida muito comum entre as mulheres é sobre o resultado desse procedimento e se as mamas voltarão a ter a mesma aparência de antes do silicone.
A médica explica que isso vai depender muito do tamanho da prótese de cada paciente e por quanto tempo essa mulher ficou com o implante de silicone. “Se, por exemplo, era uma prótese grande e que ficou por muito tempo, é provável que com a retirada a mama fique flácida. Já no caso de uma mama com prótese pequena e com menor tempo, o mais provável é que a mama retorne a um estado bem próximo ao que era antes”.
Mas não é preciso alarme e nem se preocupar com a possível flacidez que pode ocorrer. Isso porque o mais recomendado é que já no mesmo procedimento para a retirada das próteses seja realizada uma plástica corretiva no local, deixando as mamas bonitas esteticamente e, evitando assim, uma nova intervenção cirúrgica mais para frente.
“As pacientes que buscam o explante mamário, normalmente, chegam bastante angustiadas ao consultório. Após o procedimento elas relaxam de maneira notável. Vejo isso, inclusive, nos familiares (maridos, mães, irmãs etc.) que acompanham todo o processo e, de certa forma, também passam pela angústia antes da cirurgia”, conta a médica.
Realizar qualquer tipo de intervenção cirúrgica no corpo, principalmente por questões estéticas, demanda muita atenção, cuidado em buscar profissionais sérios e principalmente segurança consigo mesmo, evitando se encaixar em padrões de beleza apenas para agradar os outros.
“Sempre oriento que antes de qualquer coisa a paciente precisa se sentir bonita para ela mesma. Não pensar em seguir o padrão de ninguém. Ela não precisa ser bonita que nem a amiga ou aquela artista famosa que tanto admira. Se a cirurgia for fazê-la sentir-se mais feliz e de bem com ela mesma, então vamos lá! Se não, talvez valha a pena repensar um pouco”, aconselha a Dra. Thamy.